Tarifas de Trump contra o Brasil são imposição política, não estratégia comercial

A aproximação do dia 1º de agosto, data marcada para a entrada em vigor das tarifas de 50% impostas pelos Estados Unidos ao Brasil, escancara uma realidade cada vez mais difícil de ignorar: o governo Donald Trump não tem interesse real em negociar com o Brasil. A política tarifária não é apenas econômica — é uma ação geopolítica com claros contornos de retaliação ideológica e demonstração de força.

Ao justificar as sanções econômicas com argumentos relacionados ao judiciário brasileiro e ao tratamento dado ao ex-presidente Jair Bolsonaro, Trump usa uma narrativa conveniente e superficial para sustentar uma ofensiva que vai muito além do campo diplomático. O que está em jogo é a tentativa de enfraquecer o Brasil em meio à sua crescente articulação internacional, especialmente no âmbito do BRICS.

Bolsonaro como pretexto, não como aliado

Apesar de citar Bolsonaro em suas falas, Trump não age por lealdade ao ex-presidente brasileiro. O próprio Trump já afirmou que Bolsonaro é apenas “alguém que ele conhece”, revelando o caráter utilitário do discurso. O uso de figuras como o deputado Eduardo Bolsonaro como intermediários improvisados é apenas uma manobra simbólica para manter viva a narrativa da perseguição judicial — conveniente para sua base, mas irrelevante no cenário prático da política externa americana.

O objetivo de Trump é mais profundo: enfraquecer um país que passou a se posicionar com mais independência nos fóruns multilaterais, firmando alianças com China, Rússia e países emergentes que buscam reduzir a hegemonia do dólar e dos EUA nas relações globais.

União Europeia ganha acordo. Brasil, o silêncio.

Enquanto o Brasil é ignorado, a União Europeia assinou um novo acordo comercial com os EUA neste fim de semana. As tarifas que iriam a 30% para os produtos europeus foram reduzidas para 15%. Já o Brasil continua sendo alvo de uma sobretaxa de 50%, sem qualquer perspectiva de flexibilização.

Nem mesmo a comitiva de senadores brasileiros enviada aos Estados Unidos teve reuniões marcadas com membros da Casa Branca. O vice-presidente Geraldo Alckmin tenta abrir canais de comunicação, mas, segundo o próprio presidente Lula, nenhuma autoridade americana está disposta a conversar.

Ao mesmo tempo, juízes do Supremo Tribunal Federal (STF) tiveram seus vistos revogados, e sanções individuais foram aplicadas a membros do Judiciário brasileiro. Um gesto diplomático agressivo, raro entre democracias.

Submissão não é opção

Falta, sim, maior empenho diplomático por parte do governo federal brasileiro. Mas é preciso reconhecer o óbvio: Trump não quer diálogo. Quer subordinação.

O presidente norte-americano atua como imperador de uma potência global que se recusa a aceitar a autonomia de países emergentes. Sua estratégia é clara: usar tarifas como armas políticas, desestabilizar governos que não se alinham a seus interesses e, quando possível, humilhar o oponente — seja econômica ou institucionalmente.

Brasil precisa reagir com soberania

Diante disso, a resposta brasileira deve ir além de tentativas frustradas de negociação. É hora de:

  • Buscar alianças estratégicas com parceiros fora da órbita americana;

  • Reforçar o comércio com a China, Índia, países árabes e da África;

  • Denunciar, nos fóruns internacionais, a politização das relações comerciais pelos EUA;

  • Defender com firmeza a soberania das instituições brasileiras, especialmente frente às ameaças à independência do Judiciário.

O Brasil conquistou com muito esforço sua autonomia internacional. Não pode agora se curvar diante de um governo que transforma tarifas em instrumentos de coerção ideológica.