
Tarifas de Trump podem elevar custos da indústria em até 4,5% e ameaçar empregos, aponta estudo
Enquanto o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, se prepara para oficializar um novo pacote de tarifas de importação que podem atingir até 50%, um novo estudo do Washington Center for Equitable Growth alerta que os custos operacionais da indústria americana podem subir entre 2% e 4,5%, afetando empregos, salários e investimentos em tecnologia.
O relatório, conduzido pelo pesquisador Chris Bangert-Drowns, mostra que setores com margens de lucro apertadas — como o manufatureiro, de mineração e construção — serão os mais atingidos. “Esse aperto no caixa pode gerar estagnação salarial, demissões e até fechamento de fábricas”, afirmou.
A pressão dos custos e os riscos para as fábricas
As tarifas já impactam diretamente a cadeia produtiva. Mesmo indústrias que não importam insumos estão sendo afetadas indiretamente, já que a redução da concorrência externa permite que fornecedores domésticos aumentem seus preços.
É o caso da Jordan Manufacturing Co., em Michigan. A empresa não importa aço, mas desde a imposição da tarifa de 50% sobre aço estrangeiro, os fabricantes nacionais aumentaram o preço das bobinas de aço entre 5% e 10%.
“Não tem capitalista vermelho que não vá subir o preço em uma situação dessas”, diz Justin Johnson, presidente da empresa.
A tarifa que freia empregos e inovação
O impacto também é sentido no setor de tecnologia. A indústria de inteligência artificial, tão exaltada por Trump como o “futuro da economia americana”, depende de mais de 20% de componentes importados. A imposição de tarifas eleva os custos para montar equipamentos e desenvolver softwares no país, o que pode impactar negativamente a inovação e a geração de empregos.
“Os planos de revitalizar as cidades industriais e aumentar o salário do trabalhador médio estão ameaçados por essas tarifas”, alerta o relatório.
Um levantamento do Federal Reserve de Atlanta, feito em junho, aponta que as empresas devem repassar ao consumidor metade do custo adicional com tarifas, contribuindo para o aumento da inflação. Dados do Departamento de Trabalho indicam a perda de 14 mil empregos na indústria de transformação desde a primeira leva de tarifas anunciadas em abril.
Impacto político em estados estratégicos
Estados como Michigan e Wisconsin, onde mais de 20% dos empregos estão em setores diretamente afetados pelas tarifas, devem sentir os efeitos rapidamente. Esses estados são considerados cruciais para a eleição presidencial de 2026.
A Casa Branca, por sua vez, argumenta que as tarifas vão reduzir o déficit orçamentário, proteger a indústria nacional e reaquecer o emprego local. “O selo ‘Made in USA’ vai retomar sua dominância global”, afirmou o porta-voz da Casa Branca, Kush Desai.
Empresários pressionados
O empresário Josh Smith, fundador da Montana Knife Co., declarou que mesmo sendo eleitor de Trump, teme pelo futuro de sua empresa. Para manter a produção de facas especiais, ele teve de importar uma máquina da Alemanha no valor de US$ 515 mil, que agora será tarifada em 15% — um custo extra de US$ 77 mil.
Além disso, a única fornecedora de aço pulverizado nos EUA faliu em 2024, forçando Smith a importar o material da Suécia, que também será alvo da tarifa de 50% a partir de 2026. “Em vez de contratar mais, agora estou cortando planos de expansão por causa das tarifas”, disse.
Contradições e questionamentos
Embora Trump diga que “a inflação foi eliminada”, o próprio Conselho de Consultores Econômicos da Casa Branca reconhece que os preços de importados subiram em alguns setores. Já um estudo da Yale University Budget Lab estima que as tarifas causarão uma perda média de US$ 2.400 por família americana por ano.
Além disso, a legalidade das tarifas está sendo contestada judicialmente, com base na alegação de que se trata de uma “ação emergencial” que será julgada por um tribunal federal nesta semana.