Recuperação de áreas degradadas pode garantir produção agropecuária no Cerrado sem desmatamento, aponta estudo

Um estudo conduzido pelo Laboratório de Sensoriamento Remoto e Geoprocessamento da Universidade Federal de Goiás (Lapig/UFG), em parceria com a The Nature Conservancy (TNC) e a Universidade Federal de Sergipe (UFS), concluiu que é possível expandir a produção de carne e soja no Cerrado até 2030 sem derrubar um hectare sequer de vegetação nativa. A solução estaria na intensificação sustentável das pastagens e na recuperação de áreas degradadas.

Segundo o professor Laerte Ferreira, coordenador do projeto, o diferencial da pesquisa está em demonstrar caminhos tecnicamente viáveis para o crescimento da produção agropecuária sem novos desmatamentos. A estratégia se apoia na criação de Paisagens Produtivas Sustentáveis — áreas planejadas para otimizar o uso do solo, unindo eficiência agrícola com regeneração ambiental.

A pesquisa mostra que o manejo adequado das pastagens pode liberar terras para o cultivo de soja, ao mesmo tempo em que colabora com a restauração de ecossistemas e o aumento da retenção de carbono no solo. Atualmente, 13,2 milhões de hectares de pastagens no Cerrado apresentam baixo vigor e representam um passivo ambiental e produtivo.

O estudo aponta ainda que, com práticas de manejo sustentáveis, essas áreas poderiam sustentar até 61 milhões de unidades animais, sem a necessidade de expandir para áreas de vegetação nativa. Além disso, 16 milhões de hectares de pastagens degradadas poderiam ser destinados à regeneração natural do Cerrado, colaborando com metas ambientais nacionais.

Apesar dos avanços técnicos apresentados, os pesquisadores alertam para os desafios da implementação. A transição depende de investimentos, incentivos econômicos, apoio técnico ao produtor e políticas públicas que favoreçam a sustentabilidade na agropecuária. A pesquisa reforça a importância de unir ciência e gestão ambiental para garantir segurança alimentar sem comprometer os recursos naturais do país.