Crise entre Sandro Mabel e Câmara de Goiânia se agrava com projeto polêmico e desgaste político

Menos de seis meses após assumir a Prefeitura de Goiânia, o prefeito Sandro Mabel (UB) enfrenta seu momento mais delicado com a Câmara Municipal. O que começou como uma gestão com apoio declarado de 27 dos 37 vereadores tem dado lugar a um cenário de desgaste político crescente, atritos internos e cobranças por maior diálogo e transparência.

O estopim da crise mais recente foi a tramitação do Projeto de Lei 205/2025, que prevê crédito adicional de R$ 10 milhões para a Secretaria Municipal de Infraestrutura Urbana (Seinfra). A matéria, colocada em pauta na sessão desta terça-feira (10), provocou fortes críticas de parlamentares da oposição e até mesmo de membros da base governista.

Ministério Público entra na discussão

A vereadora Kátia Maria (PT) acionou o Ministério Público de Goiás (MP-GO), que recomendou a suspensão da tramitação do projeto até que a prefeitura esclarecesse a origem e o destino dos recursos. Mesmo assim, a proposta voltou à pauta, gerando indignação.

“Esse projeto é vazio e cheira a manobra orçamentária. Tentamos várias diligências, mas os colegas insistem em fazer ouvidos moucos quando a oposição se manifesta”, declarou Kátia na tribuna.

Falta de clareza e urgência questionadas

A vereadora Aava Santiago (PSDB) também criticou duramente a gestão, questionando a justificativa do Executivo. Segundo ela, o destino do recurso seria a limpeza urbana, mas o conteúdo do pedido inicial apontava outra finalidade.

“Qual é a urgência? Qual é o tamanho da pressão que a Câmara está sofrendo para votar algo sob questionamento do Ministério Público?”, indagou Aava. Os pedidos de vista foram negados por 21 dos 27 vereadores presentes, e a votação final foi adiada por conta do encerramento da sessão no horário regimental.

Comparações com gestões anteriores

O tom mais duro da sessão veio do vereador Lucas Vergílio (MDB), que comparou Mabel ao ex-prefeito Rogério Cruz, afirmando que a atual gestão segue um padrão de autoritarismo, falta de diálogo e uso questionável dos recursos públicos.

“Sandro Mabel é uma versão 2.0 do Rogério Cruz. Prorroga o estado de calamidade, mas gasta milhões com shows. Ignora os servidores e retoma práticas como os cartões corporativos”, afirmou, ao também criticar a proposta de criação de novas taxas municipais.

Aliados também cobram mudanças

Até mesmo vereadores aliados começaram a demonstrar insatisfação. O vereador Pedro Azulão Jr (MDB), por exemplo, reclamou da postura de secretários municipais. “O prefeito me atende, é prestativo. Mas o secretariado está pisando. Se continuar assim, voto contra os projetos dessas pastas”, alertou, exigindo mais respeito e abertura para diálogo.

Governabilidade ameaçada

A crescente insatisfação na Câmara coloca em xeque a governabilidade de Mabel, que iniciou a gestão com ampla base, mas agora vê parte de seu apoio esvaziado diante da falta de articulação política eficaz e da condução controversa de temas sensíveis.

Com o avanço do projeto sob resistência e a tensão crescente entre os poderes, o prefeito enfrenta o desafio de reconstruir pontes com o Legislativo para viabilizar sua agenda e garantir estabilidade à gestão municipal.